O maior bruxo de todos os tempos e o bruxo que Voldemort
sempre temeu são poucos apelidos para representar a grandiosidade de
Dumbledore. Entretanto, não podemos negar que ele é um personagem bastante
enigmático. O passado que Skeeter trouxe de forma parcial de Dumbledore nos
traz essa dúvida, mas ela vai muito além do passado do grande mago: repercute
na sua vida atual. É evidente que Dumbledore é um bruxo sempre ligado a Luz,
tal como ao “Bem maior”. Como ele mesmo afirma, “até mesmo” ele é suscetível a
erros, mas ao analisarmos por um ponto de vista mais crítico, poderia ser esse
grande e bondoso mestre também um grande manipulador? É o tema da nossa coluna
de hoje.
Vamos de início ver Harry Potter como um jogo de xadrez: com
todas as suas peças, temos dois lados, o bem e o mal. De um lado, temos
Voldemort, o temível vilão que movimenta suas peças com frieza para determinar
o fim que pretende, e do outro lado, temos Dumbledore, também movimentando suas
peças friamente. Sim, o bruxo que se preocupa tanto com o amor também é capaz
de ser frio, o que evidenciaremos mais à frente. E como um jogador, Dumbledore
conta com duas peças que ele gosta de jogar frequentemente: Harry e Snape. Para
ambos, Dumbledore nunca passava informações completas sobre o que sabia: sempre
passava o mínimo necessário para que fizessem o que o mestre queria.
“Eu conhecia meu irmão, Potter. Ele aprendeu a guardar
segredo no colo de nossa mãe. Segredos e Mentiras, foi assim que fomos criados,
e Alvo... Tinha um pendor natural” – Aberforth Dumbledore, Harry Potter e as
Relíquias da Morte
É de conhecimento geral que o grande plano de Dumbledore se
centrava em torno de Harry. Muitos diriam que Dumbledore não sabia que Harry
era realmente uma horcrux até os acontecimentos de A Câmara Secreta,
entretanto, podemos deduzir que o mago sabia que o garoto teria que se
sacrificar desde antes de sua chegada em Hogwarts.
“Conte-lhe que na noite em que Lorde Voldemort tentou mata-lo, quando
Lílian pôs a própria vida entre os dois como um escudo, a Maldição da Morte
ricocheteou em Lorde Voldemort, e um fragmento da alma dele irrompeu do todo e
se prendeu à única alma sobrevivente na casa que desabava. Parte de Lorde
Voldemort vive em Harry…” – Dumbledore para Snape, em Harry Potter e as Relíquias
da Morte
Não vemos dúvidas nesse último trecho. Dumbledore o fala com
olhos fechados, como se lembrasse vivamente de todos os detalhes do ocorrido, o
que ele evidencia quando o conta com tanta precisão. Dumbledore sempre soube
que Lilian deu sua vida para salvar Harry, e que logo, o lugar mais seguro para
o garoto seria um lugar que tivesse ligação com o sangue de sua mãe. Mas algo
que muitas pessoas deixam passar em branco é: Como Dumbledore tinha certeza de
tudo isso, se o único sobrevivente do ocorrido era Harry? Magicamente falando,
só existe uma maneira de saber o que aconteceu e com tantos detalhes como
Dumbledore sabe: Legilimência. Podemos deduzir então, que Dumbledore usou
legilimência no bebê para saber tudo o que havia ocorrido e dessa forma, soube
da criação da horcrux e chegou à conclusão que, desde aquele trágico dia,
Dumbledore teria que criar e proteger Harry até que chegasse ao momento certo
de se sacrificar tal como fez sua mãe, e tudo isso com certa consciência.
Analisando por esse prisma óptico, podemos ver desde os
primeiros livros como Dumbledore sempre manobrou Harry: sempre embaixo da asa
do mestre, Dumbledore vez ou outra permitia que Harry se arriscasse, sabendo
que sua vida estava predestinada (literalmente, pela profecia) para um “plano
maior”. E foi de certa forma fácil fazer isso: Ao chegar em Hogwarts, Harry era
um garoto inseguro que procurava por alguém mais velho que pudesse confiar, e
ali estava o grande mestre de braços abertos. E Harry só percebeu que foi
“usado” no Capitulo A História do Principe, em que se descreve:
A traição de Dumbledore quase não pesava. Naturalmente
houvera um plano maior; Harry fora simplesmente tolo demais para enxerga-lo,
percebia agora. (…) Agora entendia que a duração de sua vida sempre fora
definida pelo tempo que gastaria para eliminar todas as Horcruxes. (…) E
Dumbledore estivera seguro de que Harry não se esquivaria, que prosseguiria até
o fim, embora fosse o seu fim, porque ele se dera o trabalho de procurar
conhece-lo, não?”
A manipulação de Harry por Dumbledore é bem evidente também
em O Enigma do Príncipe, quando ele encoraja Harry a dedicar todo o seu tempo
para destruir Voldemort, e poupa o garoto de saber a verdade, voltando ao fato
de Dumbledore sempre dar apenas as informações suficientes para que todos
fizessem o que ele queria. Dumbledore devia a Harry a verdade, e sabia disso.
Aberforth sempre estivera certo: Dumbledore não tinha problema em manter
segredos, e assim algumas vezes, tirar o direito de livre escolha das pessoas.
E agora vamos para a relação de Dumbledore e s sua segunda
peça preferida: Snape, bem esclarecida no capitulo A História do Príncipe, em
Harry Potter e as Relíquias da Morte. Vemos claramente a frieza de Dumbledore
quando Snape procura o mago para retratar que ele tinha falado da profecia para
Voldemort, e que este iria atrás do filho de Lilian Potter. Lilian sempre foi
membro da Ordem da Fênis, Dumbledore deveria proteger ela e sua família por
obrigação, e ao invés disso, ele rebate a Snape com “E o que me dará em troca,
Severo?”. O próprio Snape se surpreende com a frieza do bruxo, respondendo
apenas depois de um tempo que o daria qualquer coisa em troca.
E na mesma noite que Lilian morreu, Dumbledore foi capaz de
usar do sofrimento de Snape para convencê-lo a fazer o que queria, que era
ajudar a proteger Harry, atitude que fica bem clara em:
“O filho sobreviveu. Tem os olhos dela, exatamente os mesmos. Você
certamente se lembra da forma e da cor dos olhos de Lílian Evans, não? (…) Se
você amou Lílian Evans, se você a amou verdadeiramente, então o seu caminho
futuro é cristalino. (…) Empenhe-se para que não tenha sido em vão. Ajude-me a
proteger o filho de Lílian.”
A manipulação de Dumbledore com Snape é questionada também
quando se fala da Varinha das Varinhas. Todos sabem que Dumbledore queria que
Snape tivesse a varinha, tal como sabem que Dumbledore também sabia que
Voldemort a queria. Então, ao fazer com que Snape tornasse o mestre da varinha,
não seria de certa forma colocar Snape como alvo para Voldemort, vez que este
procuraria o mestre de porções após saber a verdade da varinha? Snape não era
digno de uma mera explicação para que entendesse o grande risco que corria?
Pelo visto, não.
Podemos ver novamente os traços da personalidade de
Dumbledore quando Snape descobre a verdade sobre o destino de Harry. Ele indaga
ao mestre: “Você o manteve vivo para que pudesse morrer na hora certa?” e
Dumbledore responde friamente: “Não fique chocado, Severo. Quantos homens e
mulheres você viu morrer?”, e apenas aí Snape percebe que foi apenas uma peça
do jogo, retrucando: “Você me usou. Espionei por você, menti por você, corri
risco mortal por você. Supostamente tudo para manter o filho de Lílian Potter
vivo. Agora você me diz que o esteve criando como um pouco para o abate”. Isso
naturalmente seria o suficiente para fazer com que qualquer um se comovesse e
fosse aplacar a dor de Snape, mas Dumbledore insistiu em ser frio com seu
seguidor, perguntando Severo se ele se afeiçoou ao menino. Snape então, produz
seu patrono e deixa bem claro que fez isso por Lílian. E temos então algo ainda
mais impactante: Dumbledore foi às lagrimas quando percebeu que Snape ainda
amava Lílian, o que nos leva a pensar que o diretor nem sempre acreditava na
constância desse amor, o que ele confirma quando pergunta “Depois de todo esse
tempo?” e recebe a resposta que levou todos os Potterheads a soluços e lágrimas
intermináveis.
Uma das mentiras mais cruéis do diretor é notável em A Pedra
Filosofal, quando Harry questiona o mestre o motivo de Snape o proteger, e
Dumbledore simplesmente diz que Snape fez isso por ter uma dívida de vida com
Tiago, seu pai, e que agora, Snape poderia odiar a memória de Tiago em paz. Uma mentira literalmente deslavada, vez que
Dumbledore sempre soube que Snape amava Lílian. Tudo bem que ele não podia
explicar a Harry do amor de Snape por Lílian, mas não poderia dar uma desculpa
usual? Como por exemplo dizer que Snape é um professor e que por isso tem o
dever de proteger os alunos? Ao justificar como o faz, Dumbledore planta um
certo ódio de Harry para com Snape, mais uma jogada do grande mestre.
Podemos concluir de forma geral, que Dumbledore era uma
pessoa do bem, independente de tudo, mas ele seguia o princípio de Maquiavel,
que pregava que os fins justificam os meios. Desde sua relação com Grindelwald,
ele acreditava estar fazendo o bem, e para isso ele era capaz de manipular
pessoas, se fosse preciso. E o pior de tudo é que ele usa o amor como meio: no
caso de Snape, ele usou seu amor por Lílian para conseguir o que queria, e no
caso de Harry, usou seu amor com todos que amavam para manobrar o garoto. O
diretor tinha o direito de manipular a vida dos outros? Bem, teoricamente não,
mas pelo visto, ele não largou no passado a justificativa “para o bem maior”.
Dumbledore manipulou Harry e Snape tão bem, que mesmo quando
ambos descobriram do plano do diretor, eles deram procedência, vez que
acreditavam que era o único caminho a ser tomado, ideia também implantada na
mente de ambos pelo mestre, que os seguiu em seus caminhos até o momento certo
de deixá-los seguir sozinhos. Não acredito que alguém aqui vá questionar a
honra e a integridade de Dumbledore, mas não poderia ele ser um pouco mais
respeitoso para com as pessoas que ele exigiu sacrifício? É esse ponto que é
horrível e atraente. O mestre deixou a todos com dúvidas sobre sua
personalidade enigmática, mas de uma coisa temos certeza: Independente dos
atos, Dumbledore deixou saudade no coração de todos os Potterheads, único a sua
maneira, e tão grandioso como seu nome.
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